Até à semana passada, Bernie Sanders parecia ter dominado o campo democrático depois de um segundo lugar no Iowa, muito próximo de Pete Buttgieg, e vencido as primárias em New Hampshire e no Nevada.

Mas a vitória do Vice-Presidente Joe Biden na Carolina do Sul deu um impulso à sua campanha para um resultado muito forte na Super Tuesday, na qual venceu 10 dos 14 Estados que estavam em disputa. Bernie Sanders venceu na Califórnia, Estado a que os democratas atribuem mais delegados. Atualmente, Joe Biden tem uma vantagem de menos de 100 delegados para Bernie Sanders. São necessários 1.991 delegados para conseguir a nomeação.

Numa curta análise, Miguel Monjardino, Professor e Investigador do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, diz o que podemos esperar, como a corrida mudou nas últimas semanas e porquê, e fala do impacto do Coronavírus (COVID-19) na campanha.

 

Depois da reviravolta que vimos na Super Tuesday, o que podemos esperar nesta Big Tuesday?

A primeira coisa que a Super Tuesday mostrou, ou pelo menos as sondagens mostraram, é que há muito mais pessoas a votar, mas, se calhar ao contrário do que se esperava, há um aumento dos eleitores moderados e, curiosamente, uma descida nos eleitores que se consideram de esquerda, aqueles que os americanos consideram very liberal. Pode estar a acontecer porque os jovens estão a votar menos que os eleitores mais velhos, e estamos a ver a população afro-americana a votar mais, sobretudo nos subúrbios.

As primárias dos democratas até agora permitem que pessoas que não sejam filiadas nos partidos que votem. Há quem tenha deixado de votar nas primárias dos republicanos porque já não se revêem no partido e estão a votar nos democratas. Há mais pessoas a votar, mas essas pessoas tendem a ser mais moderadas e até conservadoras, no campo democrata.

Parece que, ao contrário do que diz Bernie Sanders e os seus apoiantes, a maioria do eleitorado que votou até agora, não olha para a política como ele, para a maior parte não se trata de um combate ideológico, mas da procura de soluções práticas para os problemas que se colocam.

 

Como mudou a campanha e quem saiu favorecido?

Esta tendência do eleitorado democrata parece estar a favorecer um ticket mais moderado. É por isso que Joe Biden surge como favorito. Um dos Estados mais importantes que vai a votos é o Michigan, parte do chamado Rust Belt, e no qual as sondagens dão uma margem de vitória muito significativa a Joe Biden.

Caso se confirme esta tendência que favorece a candidatura do Joe Biden, o Partido Democrata tem duas opções: a opção a), que é uma competição até ao fim como aconteceu entre Hillary Clinton e Bernie Sanders em 2016. A corrida iria até à convenção, o que seria muito difícil porque poderia dividir bastante o partido; a opção b) seria Bernie Sanders, por si ou através dos seus apoiantes, ser persuadido, a partir do momento em que é claro que o Joe Biden vai ganhar, a desistir da sua candidatura.

 

O que podemos esperar desta campanha no atual contexto?

Julgando pela experiência de 2016, não creio que Sanders desistirá. Mas estamos a assistir a uma situação um bocadinho parecida a 2008 (ano da falência do Lehman Brothers e início da crise financeira), que é um choque na oferta e na procura. Se este choque continuar (devido ao COVID-19), terá consequências políticas significativas, a campanha eleitoral pode mudar quase de certeza. Todos os cenários que tínhamos para a eleição nos Estados Unidos poderão e mudarão quase de certeza.