O nosso convidado desta semana é o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que encerra os episódios do podcast da FLAD com chave de ouro, numa entrevista sobre o impacto da administração de Donald Trump, as expetativas para a administração de Joe Biden e a força da comunidade lusodescendente nos EUA.

Começou a sua atividade política no início dos anos 70, com o envolvimento nas lutas estudantis contra a ditadura. Foi dirigente da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras do Porto, onde se licenciou em História, e aderiu ao Partido Socialista em 1990. Desde então passou por diversos cargos políticos. Foi deputado socialista, secretário de Estado da Administração Educativa, Ministro da Educação e da Cultura com António Guterres, e Ministro dos Assuntos Parlamentares e da Defesa Nacional com José Sócrates.

Em paralelo, doutorou-se em Sociologia pelo ISCTE-IUL e fez a agregação em Ciências Sociais na Universidade do Porto, onde é Professor catedrático. Em 2015, assumiu a liderança da diplomacia portuguesa no Governo de António Costa.

No último episódio do podcast da FLAD, o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, fala sobre o que considera ser o impacto da administração de Donald Trump nas relações entre os Estados Unidos e os seus aliados tradicionais, mas também sobre o que espera que venha a ser o caminho escolhido pela futura administração de Joe Biden.

“[Joe Biden] já deu sinais suficientes, mais do que sinais, já tomou decisões suficientes para percebermos que os Estados Unidos vão regressar à sua posição de protagonista, mas protagonista de primeiro plano em tudo o que é agenda multilateral das Nações Unidas e das suas organizações, até aos grandes temas da agenda multilateral, do Clima ao Desenvolvimento Sustentável ou ao Comércio Internacional.” – Augusto Santos Silva, Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.

O Ministro sublinhou qual a posição de Portugal em relação à disputa com a China lembrando que, enquanto membro da União Europeia, o país partilha de uma posição muito mais próxima da dos Estados Unidos e que sabe distinguir os seus aliados dos seus parceiros comerciais.

“A Europa não é neutra na disputa entre os Estados Unidos e a China. A Europa está muito mais próxima dos Estados Unidos do que está da China. A Europa forma com os Estados Unidos um grande espaço geopolítico e institucional a que nós habitualmente chamamos o Atlântico Norte ou ligação transatlântica ou, às vezes, o Ocidente.” – Augusto Santos Silva, Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.

Numa altura em que o mundo se vê a braços com um desafio nunca antes visto à escala vivida, o da pandemia COVID-19, Santos Silva defendeu a necessidade de trabalhar em conjunto para enfrentar este tipo de ameaças – nas quais inclui as alterações climáticas -, de forma realista, sem idealismos e revisionismos históricos.

“As epidemias, as pandemias, as grandes crises públicas globais são também ameaças muito concretas e muito duras ao nosso modo de vida. A melhor maneira de enfrentar estas ameaças e riscos é trabalharmos em conjunto. Trabalhar em conjunto não significa rasurar as nossas diferenças, ignorar nem a geografia nem a história ou desprezar os nossos interesses próprios, mas significa tratar disso tudo, tentando aproveitar os interesses e valores que nos são comuns.” – Augusto Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros.

A comunidade luso-americana: um ativo para Portugal, mas também para os EUA

Neste episódio das Atlantic Talks, Augusto Santos Silva aproveitou para destacar o trabalho da comunidade luso-americana na sua organização política, destacando o papel dos congressistas Jim Costa e Devin Nunes na organização do caucus luso-americano no Congresso dos EUA, enaltecendo ainda o trabalho associativo de organizações como a PALCUS, entre outras, e dos embaixadores portugueses nos EUA, lembrando que todos beneficiam disto.

“Nós temos tido muita vantagem disto. Nós, os portugueses, e também os americanos. O facto de nós termos hoje interlocutores que percebem bem o valor do mais de um milhão de portugueses e luso-americanos que vivem nos Estados Unidos é uma vantagem.” – Augusto Santos Silva, Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.

O ministro lembrou que os lusodescendentes nos EUA têm chegado inclusivamente mais longe, dando o exemplo da administração Obama.

“Nós já tivemos um secretário da Energia filho de portugueses, o Ernest Moniz, de origem açoriana; o assessor político principal do Presidente Obama, o David Simas, é um americano filho de açorianos. Aliás, nunca me esquecerei da forma muito interessante como ele explicou como foi a mãe que o fez compreender como é que se ganhava eleições, como é que se convenciam as pessoas, como é que se fazia o porta a porta. E temos, neste momento, americanos de origem portuguesa ou binacionais na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. Temo-los em vários senados e câmaras de representantes estaduais e temos, depois, naquela quase infinita variedade de cargos.” – Augusto Santos Silva, Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.

Não perca o novo episódio das Atlantic Talks, já disponível onde normalmente ouve os seus podcasts. Pode também encontrar este episódio nos links abaixo.