Os EUA são um país laico cuja fundação está muito influenciada por aqueles que procuravam a liberdade da prática religiosa. Ao mesmo tempo, a religião ganhou um papel central na sociedade, e até na política, tendo passado a identificar-se com um lado do espectro político. Uma história complexa, crucial para entender o país, explicada pelo nosso convidado desta semana das Atlantic Talks.

Porque é que a as igrejas e a religião têm um peso tão grande nos Estados Unidos, um país laico? Como acontece a viragem fundamentalista de algumas igrejas nos EUA desde a década de 50 e qual a sua influência na vida política da maior economia do mundo? O peso da religião na sociedade americana é o uma das suas características fundamentais, o nosso convidado desta semana é a pessoa ideal para nos explicar tudo isto.

Paulo Mendes Pinto especializou-se em História das Religiões Antigas e dedica parte do seu trabalho a estudar a relação entre o Estado e as religiões. É atualmente o coordenador da área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona, responsável por vários projetos de investigação, e membro do conselho consultivo da Associação de Professores de História. Em 2013, recebeu a Medalha de Ouro de Mérito Académico da Universidade Lusófona.

“A ideia de progresso é muito tecnicista, muito positivista do século XVIII, mas sobretudo do século XIX. A nossa ideia de progresso na Europa Continental diz no fundo que a religião desaparece do espaço público. Nos EUA, a afirmação do indivíduo passa pela possibilidade de uma afirmação pública da sua fé e não pelo recolher da fé ao espaço privado. É exatamente o oposto.” – Paulo Mendes Pinto

O investigador explica que a ideia de cidadania nos Estados Unidos não forçou uma desvinculação do Estado face à religião, com esta a manter-se sempre como uma afirmação comunitária e identitária, que se traduz ainda nos rituais de ir à igreja e levar as crianças à escola dominical aos domingos, juntamente com o papel de organizador social da igreja, mais visível nas zonas rurais.

Mas a história das igrejas nos Estados Unidos é também ela complexa. Ao longo das décadas, em especial em resposta ao avanço científico da II Guerra Mundial e mais tarde da Guerra Fria e do movimento de luta pelos direitos civis, muitas igrejas tomaram um caminho mais virado para o fundamentalismo, que as colocou também numa rota eminentemente política.

“O movimento de reação  vai depois ganhar muito peso na era Reagan, na década de 80, e que a partir daí vamos vê-lo muito colado aos Republicanos. Vamos vê-lo no fundo a fazer um caminho não só de apoio a Ronald Reagan, mas depois de apoio à família Bush, de demonização da família Obama, e, enfim, a desaguar no fenómeno Trump.” – Paulo Mendes Pinto

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