A FLAD realizou um debate para celebrar o Dia da Mulher e discutir os obstáculos que as mulheres ainda enfrentam no caminho para a representação e para o poder, com a deputada do PS Isabel Moreira, a ex-líder do CDS-PP e professora na NOVA School of Law, Assunção Cristas, a economista e colunista Susana Peralta, e a empresária Sofia Tenreiro. O debate foi moderado pela jornalista da CNN, Sara de Melo Rocha.

Em 2022 as mulheres continuam sub-representadas em áreas chave da nossa sociedade. Nas eleições legislativas de janeiro, mesmo com a Lei da Paridade nas Listas, foram eleitas menos mulheres para o Parlamento do que nas eleições de 2019, representando pouco mais de um terço dos deputados. Se a representação é um pilar da Democracia, que obstáculos estão a travar uma representação mais equitativa das mulheres nas posições de liderança, da política à economia, e como os ultrapassar?

As mudanças feitas nos últimos anos têm feito avançar a sociedade no caminho para a paridade, mas com tantos obstáculos pela frente, a FLAD promoveu um debate com mulheres experientes nestes domínios.

Como explicou a presidente da FLAD, Rita Faden, é fundamental promover a participação das mulheres nos cargos de decisão, não apenas a sua presença, mas que são ouvidas e tidas em conta.

“Enquanto Fundação que tem como responsabilidade promover o desenvolvimento de Portugal, este é um tema central. Nós só teremos desenvolvimento em Portugal se tivermos maior igualdade e maior paridade entre homens e mulheres. Pode parecer que é uma questão menor, mas não é. É uma questão absolutamente essencial para o desenvolvimento humano.” – Rita Faden

Nesse sentido, a FLAD assume o compromisso de não fazer eventos onde as mulheres não estão representadas, como tem vindo a fazer, assim como chamar à atenção dos nossos parceiros sempre que essas situações se verifiquem.

Isabel Moreira, deputada do Partido Socialista, explicou que apesar da sua vasta experiência enquanto representante partidária e dos avanços legislativos que foram alcançados, as mulheres ainda sentem que são tratadas de forma diferente, nomeadamente que ainda têm de fazer prova negativa em relação aos homens quando, por exemplo, são indicadas para um cargo.

“Quanto mais mulheres tivermos no poder, mais possibilidade temos de ter políticas públicas serem desenhadas tendo em conta todos os problemas que nos assolam.” – Isabel Moreira

Assunção Cristas foi deputada e líder do CDS-PP. Quando abandonou a liderança do partido juntou-se à NOVA School of Law, onde é Professora Associada. Durante o debate, a ex-líder do CDS-PP explicou que nunca tinha sentido que ser mulher era um obstáculo até ter decidido dedicar-se à política, especialmente quando se tornou líder do partido.

“Só senti verdadeiramente a diferença de ser mulher depois de entrar para a política e na política fiz um percurso muito rápido. Nunca senti que ser mulher era um obstáculo, até um determinado ponto. Quando me tornei líder do CDS, aí senti claramente.” – Assunção Cristas

A ex-deputada do partido de centro-direita explicou que as mulheres têm de fazer muito mais para chegar a um cargo de representação política, mas mesmo nessa altura se nota a diferença, especialmente nas salas onde se tomam as decisões, com os homens a tomar uma posição para terem visibilidade antes de fazer o trabalho, e as mulheres estão mais preocupadas com o trabalho do que com a visibilidade, acabando por serem prejudicadas.

A economista e colunista Susana Peralta explicou, fazendo uso da sua própria experiência, que as próprias organizações não têm em conta as dificuldades acrescidas e o trabalho extra que as mulheres acabam por desempenhar nas suas vidas particulares, como no cuidado com os filhos, dando o exemplo de quando estava a tentar candidatar-se a um financiamento de uma universidade em plena pandemia e a tratar dos filhos, com prazos muito curtos.

Susana Peralta abordou ainda a síndrome de impostora que algumas mulheres sentem quando chegam a cargos de poder ou tentam conjugar uma vida profissional e uma carreira com a vida familiar, dizendo que as mulheres são tratadas de uma forma muito diferente dos homens.

“Como os homens conseguem fazer aquilo com muito menos esforço, certamente que as mulheres que lá chegaram eram extraordinárias, mas houve muitas mulheres mais extraordinárias que os homens que ficaram pelo caminho.” – Susana Peralta

A ex-administradora da Galp, Sofia Tenreiro, disse que é importante que mulheres como as que fizeram parte deste painel demonstrem que é possível conjugar a vida pessoal com a vida profissional, de que as mulheres podem almejar mais.

“Temos que mostrar, com exemplos como os nossos, que é possível ser mãe, ser mulher, ser parceira, ser profissional, ser tudo o que podemos ser e podemos ser muito.” – Sofia Tenreiro.

Para isso, diz a gestora, as mulheres não devem ter vergonha de assumir o seu papel na sua vida pessoa e pedir ajuda quando for necessário. Mas também que as instituições devem respeitar isso, e criar um ambiente mais inclusivo, que não permitam a continuação da discriminação das mulheres.