Numa altura em que as questões identitárias têm uma preponderância cada vez maior na literatura e em que a digitalização ganha força, Manaíra Aires Athayde quer perceber se os autores e os períodos literários procurados estão a mudar.

O mundo está em profunda mudança e essa mudança reflete-se, também, na literatura. Num mundo cada vez mais digital e em que as questões identitárias estão no centro do debate, como estará a procura no mundo literário a ajustar-se?

Manaíra Aires Athayde estudou em Portugal, mais concretamente na Universidade do Porto, onde se licenciou em Ciências da Comunicação, e na Universidade de Coimbra, onde completou o doutoramento em Materialidades da Literatura.

Atualmente, é Visiting Scholar na Universidade de Stanford, na Califórnia, onde está a desenvolver o projeto “A Literatura-Arquivo no Século XXI”. É esse projeto que a traz a Portugal, onde, com o apoio da FLAD e da Biblioteca Nacional, está a estudar os espólios literários depositados no arquivo de cultura portuguesa contemporânea da Biblioteca Nacional de Portugal.

“O meu objetivo é tentar entender quais foram os principais espólios mais procurados nos últimos 10 anos na Biblioteca Nacional de Portugal e de que maneira isso revela novos caminhos da crítica literária na última década. Quais foram os autores mais procurados, o que foi mais procurado, os períodos literários mais procurados, de que maneira os espólios literários estão a ser procurados pela crítica literária e de que maneira isso reflete, por exemplo, o nosso atual momento em que a literatura está muito voltada para as questões identitárias.” – Manaíra Aires Athayde.

Para perceber as mudanças, a Visiting Scholar de Stanford está a analisar os registos dos acessos realizados nos últimos 10 anos aos espólios de todos os autores, de todos os períodos temporais, depositados junto da Biblioteca Nacional de Portugal, uma quantidade de dados muito significativa.

A investigadora coloca várias hipóteses em cima da mesa, desde uma mudança dos clássicos para autores mais recentes, e de uma eventual mudança no currículo académico para estes autores, com questões mais atuais, nomeadamente as identitárias.

“Como hipótese sugiro que há uma mudança na procura de autores, que me parece que havia uma associação maior da ideia de espólios literários ao final do século XIX, início do século XX, autores das primeiras décadas do século passado. E parece-me que há agora uma tendência maior de procura de espólios de autores mais recentes. Mas isso é uma hipótese de leitura, eu vim aqui no sentido de confirmar determinadas tendências.” – Manaíra Aires Athayde.

Outra parte importante da sua investigação é entender como a digitalização destes espólios alterou a sua consulta. Terá aumentado a procura? No final, Manaíra Aires Athayde promete contar-nos as suas conclusões. Mas para já há muito trabalho para fazer.

Bom trabalho, Manaíra!