Pedro Morgado, psiquiatra e investigador da Universidade do Minho, recebeu esta terça-feira o prémio FLAD Science Award Mental Health da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD). Numa cerimónia realizada no auditório da Fundação, que contou com participação dos ministros da Saúde e da Ciência e Ensino Superior, a presidente da FLAD reforçou o compromisso com a Saúde Mental, de forma alargada, e que este prémio é para continuar.
A FLAD entregou esta terça-feira o prémio Science Award Mental Health ao investigador Pedro Morgado, vencedor da 1ª edição com um projeto inovador para melhorar o diagnóstico, a predição no tratamento e a eficácia do mesmo na doença obsessivo-compulsiva, reforçando a sua aposta para o futuro, não apenas no apoio à investigação clínica.
Numa cerimónia oficial que decorreu no auditório da FLAD, em Lisboa, a presidente da FLAD, Rita Faden, deixou a garantia que a Fundação vai continuar a apostar no apoio à investigação clínica, mas também que, ciente da importância da Saúde Mental, serão desenvolvidas outras iniciativas tendo em vista a informação da população e consciencialização para o papel central da Saúde Mental nas nossas vidas.
“Este prémio representa também o compromisso da FLAD com a saúde mental. Esta é a primeira edição de muitas que esperamos no futuro. No futuro esperamos apoiar outras iniciativas e outros projetos de investigação nesta área, mas também queremos trabalhar e pensar a saúde mental numa perspetiva mais ampla e não apenas no que diz respeito à investigação. Todos nós temos um papel a desempenhar.” – Rita Faden
A cerimónia contou com a presença da Ministra da Saúde, Marta Temido, e que apoiou o lançamento da iniciativa desde o primeiro dia. Marta Temido deixou um agradecimento à FLAD pelo trabalho desenvolvido nesta área e o desejo que os resultados do trabalho de Pedro Morgado se venham a traduzir na melhoria da qualidade de vida das pessoas afetadas por esta doença.
“A realidade mais recente alterou-se e hoje todos temos mais consciência daquilo que é a linha muito fina em que todos nós estamos face ao adoecer mental. (…) Hoje celebramos o mérito científico, a vontade de fazer mais e de fazer melhor, mas também os frutos da cooperação de quase 40 anos de cooperação entre Portugal e os Estados Unidos através desta instituição que tanto nos prestigia, que é a FLAD. Muitos parabéns ao premiado, muitos sucessos, esperamos com ansiedade que os frutos do seu trabalho se venham também a traduzir em impacto na vida dos utentes, porque são eles a nossa razão de ser.” – Marta Temido
A cerimónia juntou ainda os membros do júri do prémio para um debate sobre o futuro da Saúde Mental no nosso país. A conversa com Miguel Xavier, Diretor do Programa Nacional de Saúde Mental, Catarina Resende Oliveira, Presidente da Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica, e Margaret Lanca, Professora no Departamento de Psiquiatria da Harvard Medical School, foi moderada pela subdiretora do jornal Observador, Sara Antunes de Oliveira.
Os membros do júri falaram sobre o estigma que ainda existe, e que culturalmente e socialmente continua a ser espalhado, em relação aos doentes mentais, mas também aos profissionais de Saúde Mental, concordando que existe a necessidade de continuar a trabalhar sobre o reconhecimento que pandemia nos trouxe à importância destas questões.
“A Saúde Mental tornou-se uma questão porque nos entrou em casa. Acho que aquilo que é a consciência deste problema veio para ficar. (…) Não podemos olhar para a pandemia como a única crise que vivemos nas nossas vidas. Há 7 ou 8 anos vivemos uma crise económica. A única diferença é que não entrou na nossa casa, ao contrário desta. Nós estaremos tanto melhor no futuro em termos de assistência pós-COVID se trabalharmos em equipa. É preciso estar tudo a trabalhar em conjunto.” – Miguel Xavier
“É inquestionável que a saúde é um dos principais fatores de estabilidade social e económica, em qualquer país, em qualquer sociedade. Particularmente, a Saúde Mental é especialmente marcante e nós experimentamos isso com esta pandemia que, custa-me dizer isto, mas abriu-nos o olhar para coisas que nós anteriormente talvez não olhássemos da mesma forma. Não nos tocavam tanto. Era mais fácil deixar estar.” – Catarina Resende Oliveira
“Esta conversa deve acontecer a todos os níveis da sociedade e não apenas no sistema de saúde. Tenho esperança que assim seja. Penso que a discussão se está a intensificar.” – Margaret Lanca
Pedro Morgado, investigador da Universidade do Minho e psiquiatra no Hospital de Braga, apresentou o projeto vencedor aos convidados, explicando a importância do financiamento obtido para o desenvolvimento de um ensaio clínico para o novo uso de um fármaco, algo pouco comum em Portugal.
O investigador salientou ainda a importância do prémio para a sociedade, lembrando que as doenças mentais têm um custo muito elevado na vida dos pacientes e das suas famílias, e que é preciso continuar este trabalho de reconhecimento.
“Este prémio faz sentido porque as doenças psiquiátricas são altamente prevalentes, têm um custo enorme para a sociedade, inibem as pessoas de usufruírem de forma satisfatórias das suas vidas, e, sobretudo, porque não têm ainda a atenção necessária da sociedade.” – Pedro Morgado
O prémio foi entregue pela administradora da FLAD, Elsa Henriques, que explicou a importância da escolha de um prémio orientado para a investigação clínica na área da Saúde Mental, uma área ainda pouco desenvolvida, e reforçou o compromisso da Fundação em relação ao prémio e à promoção do tema.
“Este é um prémio na área da saúde mental, e não da doença mental, porque liga a prevenção, o diagnóstico, e as diversas linhas e perspetivas de possíveis terapêuticas. É importante perceber que é um prémio que tentámos dirigir para uma área um pouco mais débil em Portugal, da investigação mais próxima da aplicação. Este é uma primeira edição.” – Elsa Henriques
O encerramento da sessão ficou a cargo de Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que agradeceu à Fundação e aos investigadores, reconhecendo que ainda há um longo caminho por percorrer, mas muito otimista que esse caminho será feito.
“[A Saúde Mental é] uma área em que todos sabemos que temos um percurso longo a percorrer. Mas que todos queremos e devemos fazer esse percurso coletivo. Agradeço à FLAD esta oportunidade, estou certo de que este prémio vai dar que vingar. E também aqueles que agora vão ter que fazer a investigação clínica. O Pedro disse, e bem, da generosidade dos doentes. Eu também falaria da generosidade dos investigadores em se dedicarem a esta temática. Essa generosidade conjunta, certamente aqui aliada também à FLAD, é que farão desta área surgir e crescer em Portugal como todos queremos.” – Manuel Heitor
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