A disputa entre os Estados Unidos e a China tem vindo a aquecer ao longo da última década. Dos ataques informáticos chineses durante as eleições norte-americanas ainda com Barack Obama, à retórica inflamada durante a guerra comercial, o cenário de uma nova guerra fria começa a ser apontado por muitos especialistas. Mas será mesmo assim? E que lugar estará reservado à Europa? A nossa convidada desta semana é a pessoa indicada para percebermos melhor o que está em jogo.

Lívia Franco é mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Louvain, na Bélgica, doutorada em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa (IEP-UCP), foi visiting scholar na Universidade de Brown, graduate student no Boston College, bem como bolseira da FLAD, FCT e da Fulbright. Atualmente, Lívia Franco é professora e investigadora principal IEP-UCP, e investigadora associada do European Center for Foreign Relations, e será FLAD visiting professor na Universidade de Georgetown.

É precisamente todo este conhecimento acumulado que fomos explorar neste episódio das Atlantic Talks. Numa altura em que há muitas questões sobre o futuro da ordem mundial, sobre quem a irá liderar e em que moldes, Lívia Franco oferece-nos uma visão diferente sobre o conflito entre os EUA e a China e a ideia de que vivemos uma nova guerra fria.

“Não acho necessariamente que a Europa não é o palco estratégico fundamental. Devido à lógica da globalização há muitos palcos estratégicos fundamentais. Essa é a grande diferença face ao contexto da guerra fria da segunda metade do século XX. (…) Ao contrário da guerra fria, este é um contexto onde não há verdadeiramente periferias.” – Lívia Franco

Esta lógica de disputa pela liderança da ordem mundial traz consigo questões fundamentais para a União Europeia. Apesar de ser tradicionalmente aliada dos Estados Unidos, a expansão económica da China e o crescimento da sua influência política coloca a União Europeia numa posição que, nesta altura, não é óbvia, até pela natureza da organização.

“Este é um desafio maior para a Europa do que era durante a guerra fria, porque o grande risco que agora se coloca em relação ao conflito, a esta competição global entre estas duas grandes potências [China e EUA], é que a Europa tem mesmo que definir de que lado é que fica. E essa definição não é evidente para a Europa.” – Lívia Franco

E Portugal, onde fica no meio disto tudo? Como membro da União Europeia, e ao mesmo tempo um país alvo de muito investimento chinês – tendo em conta a sua dimensão –, como se posiciona nesta disputa?

“Num contexto de uma forte crise sanitária, a China veio em socorro dos países europeus com muita intensidade e, obviamente, com uma agenda e objetivos que são políticos. Ora, Portugal foi simultaneamente dos países que mais recebeu e que mais esteve aberto a essa diplomacia, mas também com mais cautela e consciência de que as intenções daquela política não eram meramente sanitárias.” – Lívia Franco

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