O podcast da FLAD está de volta para a sua segunda temporada. As Atlantic Talks arrancam esta segunda-feira, agora num formato quinzenal, com um convidado de luxo: Mário Centeno, governador do Banco de Portugal e ex-ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo.

Após o sucesso da primeira temporada do nosso podcast, a FLAD decidiu avançar com a segunda temporada das Atlantic Talks. E arrancamos da melhor forma, tendo como primeiro convidado Mário Centeno. O governador do Banco de Portugal, que ficou conhecido dos portugueses enquanto ministro das Finanças nos últimos dois governos socialistas, falou com o Filipe Santos Costa sobre a sua experiência em Harvard, as diferenças entre os EUA e a Europa, e até a forma como vê o futuro da política europeia.

Em 1995 partiu para Cambridge, para completar a sua formação naquela que é considerada a melhor faculdade de economia do mundo, Harvard. Foi lá, por onde passaram vários prémios Nobel da economia, que completou o seu doutoramento, com uma tese em economia do trabalho. Desde então, e após uma longa carreira no Banco de Portugal, foi o ministro das Finanças mais tempo em funções na história da democracia, foi também o primeiro português a assumir a liderança do Eurogrupo, até ter voltado ao Banco de Portugal, agora como governador.

Em conversa com o Filipe Santos Costa, Mário Centeno recordou a experiência em Cambridge, demonstrou o seu conhecimento da diáspora portuguesa na Costa Este dos EUA, e como as rádios portuguesas o acompanhavam nas suas viagens.

“Consegue-se ir de Boston a Nova Iorque sempre ouvindo rádios portuguesas, foi uma experiência que eu fiz. Há ali uma zona no Connecticut em que é preciso ter sorte, mas fora isso conseguimos fazer, e, portanto, essas experiências de ir pelos Estados Unidos com ligação permanente a Portugal também as fizemos.” – Mário Centeno.

Sobre a experiência universitária, Mário Centeno diz que a diferença, como aluno, era que em Harvard são dadas todas as condições para que o aluno se dedique a 100% aos estudos. “Não há nenhuma desculpa que possamos querer ter para não fazer aquilo que é suposto um estudante fazer. Todos os recursos estão disponíveis a toda a hora, 24 horas por dia, nunca houve nenhuma porta fechada, não há professores que digam que agora não têm tempo”.

Mas as diferenças relativamente à academia vão mais longe. Tendo estudado numa universidade de onde saíram muitas pessoas para cargos de topo da administração norte-americana, o governador do Banco de Portugal explica que há uma cultura mais aberta do serviço público da parte da academia e uma maior abertura do lado da política para aceitar académicos, e lembra até um caso particular para ilustrar este distanciamento que existe em Portugal.

“Quando saí da academia –  e um pouco do Banco de Portugal mas da área dos estudos – e o meu trabalho era escrever papers e livros, houve uma tentação do lado da política de me confrontar com os resultados que eu tinha obtido na minha investigação e aquilo que era a prática política que eu estaria a seguir. Eu lembro-me de ter tido de responder na Assembleia da República que seria um desastre se os resumos dos meus papers fossem passados para a lei. Isso não faz sentido nenhum. (…) Não há a compreensão efetiva de qual é o contributo que a academia pode dar para a vida política normal, estamos aliás agora confrontados com exemplos semelhantes na pandemia que estamos a viver, infelizmente. Não há um hábito e há pouca permeabilidade. [É uma relação] muito complexada, de um lado e do outro, cheia de pruridos e de dificuldades. Ao contrário do que acontece nos Estados Unidos.” – Mário Centeno.

Numa altura em que muitas são as questões em relação à recuperação económica necessária no cenário pós-pandemia, o governador do Banco de Portugal sublinhou também que, no seu entender, as discussões que envolvem comparações ou tentativas de copiar certas partes de outros países que terão resultados mais rápidos, ou melhores, são enganadoras e devem ser desencorajadas.

“Não é possível transplantar um pedacinho da Dinamarca e colocá-lo em Portugal. O conjunto institucional, de normas, é completamente distinto, e igualmente, acho eu e por isso é que é para o bem e para o mal, eficaz. Nós temos de os ir melhorando. Eles, na Dinamarca, também, e nos Estados Unidos a mesma coisa. Esta guerra de modelos que muitas vezes de forma maniqueísta é tida na discussão é muita enganadora.” – Mário Centeno.

A cada 15 dias teremos um novo episódio, com novas entrevistas, novas perspetivas, conversas interessantes e importantes sobre os temas fundamentais da sociedade, sempre com uma ligação aos Estados Unidos.

Pode ouvir o novo episódio das Atlantic Talks onde normalmente ouve os seus podcasts. Pode também encontrar este episódio nos links abaixo.