O nosso convidado desta semana é Miguel Miranda, presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e cientista que dedicou a sua vida ao estudo de temas como o geomagnetismo, a geofísica marinha e riscos naturais, em particular o estudo dos tsunamis, numa conversa sobre as implicações das Alterações Climáticas e como o tempo escasseia para tomar medidas.

Se há umas décadas ainda se discutia se era uma questão de facto, agora a pergunta é outra: o que fazer para evitar que o planeta se torne inabitável. Miguel Miranda vê esse reconhecimento por parte dos agentes políticos e da sociedade sobre a existência do problema como algo positivo, o que permite avançar para a resolução do problema.

“Apesar de tudo, já passámos aquele momento em que a mudança climática era um assunto de divisão entre as pessoas, os governos, os partidos e os cientistas. Hoje em dia existe a ideia razoavelmente estabelecida de que o fenómeno está cá e está para ficar, ampliou-se significativamente desde os anos 70 e nós temos que viver com ele.” – Miguel Miranda.

No entanto, isso não torna a questão muito menos complexa. O cientista diz que, nesta altura, o que há em cima da mesa é uma solução má (o cumprimento do estabelecido no Acordo de Paris) ou uma solução horrível (nem isso acontecer). A discussão que existe hoje em dia passa mais por ‘o que fazer?’. E a urgência, sublinha, é muito grande.

“Quem, como eu, acredita que nós corremos risco de estar nos ‘tippings points’, pontos de não retorno, percebe que não podemos arriscar praticamente nada. Quem acredita que é possível ter aumentos mitigados, que do ponto de vista económico a humanidade ganha com isso, pode acreditar noutras estratégias. Eu diria que à medida que o tempo passa, essas estratégias são cada vez mais impossíveis e provavelmente a insistência nelas vai levar à existência de medidas mais radicais”. – Miguel Miranda.

A pandemia é um bom exemplo para se perceber que não há tempo a perder, diz.

“Se alguém tem dúvidas sobre este assunto, aconselho que imaginem, que observem, o que se está a passar com a pandemia. Quando existe a ideia de que há medidas de contenção que podem ser adiadas, o custo delas é, tipicamente, medidas radicais de controle que, isso sim, tem impactos económicos dramáticos.” – Miguel Miranda.

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