2020 foi um ano, no mínimo, atípico também para a atividade da Fundação, mas durante o qual muito foi alcançado. Rita Faden, a presidente da FLAD, avalia a atividade ao longo deste ano que agora terminou, e partilha os objetivos da Fundação para 2021, com uma mensagem de esperança e determinação.

2020 foi um ano atípico. O que marcou a atuação da FLAD?

A capacidade que teve de, em relativamente pouco tempo, identificar o problema e agir. Muita da atividade normal da FLAD – dar bolsas, apoiar viagens aos Estados Unidos-, tornou-se impossível com a pandemia. Percebemos isso rapidamente e, como teríamos orçamento disponível devido à impossibilidade de continuar a atividade normal, fazia sentido redirecionarmos esse apoio para ações de solidariedade social, e também para apoiar a investigação científica em torno da Covid-19.

Penso que o fizemos bem e de forma diversificada, apoiando o Banco Alimentar Contra a Fome, agilizando o fabrico nacional de viseiras numa altura em que ainda não havia máscaras e que distribuímos por lares, bombeiros e forças de segurança, apoiando a criação de um biobanco de amostras de doentes Covid-19 pelo Instituto de Medicina Molecular (IMM), e apoiando a CASA Porto, dedicada aos sem-abrigo, a Cáritas Açores, e outras associações que atuam na área da solidariedade social.

Além disso, se há tema que a pandemia veio tornar particularmente evidente, foi sem dúvida a saúde mental e a necessidade de desenvolver investigação nesta área. Foi por essa razão que lançámos o FLAD Science Award Mental Health, destinado à investigação clínica na área da saúde mental, com um prémio de 300 mil euros.

A pandemia, por um lado, empurrou-nos para um isolamento sem precedentes. E, ao mesmo tempo, todos sentimos uma vulnerabilidade enorme, preocupação, angústia, ansiedade, em resultado da preocupação constante com o nosso estado de saúde e o da nossa família.

Penso que muitas pessoas perceberam pela primeira vez que eram vulneráveis a questões especificas de saúde mental. Também há que ter em conta que se verificou, em muitas pessoas que já enfrentavam dificuldades neste âmbito, um agravamento da sua condição. Apoiar a investigação clínica na área da saúde mental já era importante, mas tornou-se fundamental.

Apesar das limitações, que outros projetos foi possível implementar?

É importante salientar que decidimos imediatamente manter todos os apoios previstos, mesmo quando muitas das iniciativas passaram a ser online, porque todas as organizações têm custos, e considerámos importante manter o apoio prometido.

Por outro lado, conseguimos avançar com muitos dos projetos que tínhamos inicialmente pensados. Apesar dos adiamentos, inaugurámos em setembro a exposição “Festa. Fúria. Femina – Obras da Coleção FLAD”, na Central Tejo do Maat. Era um desejo meu, desde que tomei posse, tomar conta da coleção, cuidá-la, continuá-la, mas também expô-la.

Avançámos com outras iniciativas importantes para promover a informação e o debate em torno das eleições norte-americanas. Claro que não foi possível fazer uma noite eleitoral como previsto, abrindo as portas da FLAD e do nosso auditório, mas o essencial era informar as pessoas sobre o processo eleitoral, que é muito diferente do nosso, e dar-lhes bases para acompanharem o processo de forma fundamentada. Apoiámos uma newsletter do Observador, o desenvolvimento de um podcast pela TSF, a elaboração de uma revista dedicada às eleições pela SÁBADO e realizámos dois webinars para discutir o comportamento do eleitorado e as previsões e sondagens, em parceria com a SIC/Expresso.

Estes projetos, juntamente com o apoio ao desenvolvimento de uma Newsletter do Açoriano Oriental e de uma versão do PGlobal em inglês, traduzem um apoio importante à comunicação social no momento difícil que atravessa este setor tão importante para a Democracia, ajudando ao mesmo tempo a informar a sociedade portuguesa sobre temas fundamentais da vida americana e a dar conta à comunidade nos EUA do que se passa em Portugal.

Algo que gostei particularmente foi o lançamento do primeiro podcast da FLAD, as Atlantic Talks, conduzidas pelo jornalista Filipe Santos Costa. Ao celebrar os seus 35 anos, quisemos criar um espaço de reflexão sobre a influência dos EUA em Portugal em diferentes áreas – cultura, política, ciência, culinária ou música -, numa perspetiva alargada e variada e que deu conversas muito interessantes. Estas permitiram entender perspetivas diferentes dessa influência dos EUA, e que de facto na maior parte dessas áreas tem uma presença e uma influência constante em Portugal, e que agora transformámos num livro.

Mantivemos também o Prémio FLAD Science Award Atlantic, que atribuímos este ano a um projeto muito interessante do investigador Rui Seabra, que consiste no desenvolvimento e aplicação de nova tecnologia que permitirá medir de forma mais correta a temperatura da água junto à costa, com grandes implicações no estudo do impacto das alterações climáticas.

Ainda este ano também lançámos os concursos de apoio à tradução de obras portuguesas para os EUA e de obras americanas para português. Estes irão permitir apoiar as editoras na promoção da entrada de autores portugueses nos Estados Unidos, e ao mesmo tempo a publicação de obras de autores norte-americanos em Portugal que de outra forma não chegariam às livrarias portuguesas.

Nem todos os projetos foram avante. Quais são os que vão ser retomados assim que seja possível?

Por exemplo, o Legislators Dialogue, uma iniciativa na qual estamos muito empenhados, que reúne em Portugal os políticos norte-americanos eleitos de ascendência portuguesa. Este encontro permite que estes responsáveis tenham contacto com a realidade portuguesa, através dos temas que colocamos em discussão de ano para ano – em 2019 o foco foi a ciência. É importante terem contacto com políticos portugueses, através das personalidades que a FLAD convida para discutirem os temas e darem a conhecer a situação interna de Portugal e fomentar o relacionamento entre os dois países.

Ao mesmo tempo, o facto de trazermos políticos do mesmo Estado, democratas e republicanos, e eles se identificarem aqui como americanos de ascendência portuguesa, faz com que depois tenham a capacidade de trabalhar de forma bipartidária e apoiar iniciativas concretas de uns e de outros que visem apoiar a comunidade portuguesa.

É importante que tenham uma rede que permita fazer crescer e dar mais importância aos interesses lusodescendentes nos EUA.

2020 chegou ao fim, mas as limitações não. Perante este cenário, o que podemos esperar da FLAD em 2021?

Vamos manter todos os programas que tínhamos a decorrer em 2020, como as bolsas, os prémios FLAD Science Award na vertente Atlantic e Mental Health, e temos esperança que, no segundo semestre, voltemos a ter estudantes americanos em Portugal através do Study in Portugal Network.

Também será muito marcante a realização da exposição das obras da FLAD nos Açores, que começa a 25 de março, e que nos vai permitir mostrar a coleção a um público que nos é especial, o dos Açores. Iremos também abrir o Festival de Cinema Americano Independente em Angra do Heroísmo e na Praia da Vitória, apresentando filmes que nunca estrearam comercialmente em Portugal, mas que contam boas histórias e que nos ajudam a conhecer e perceber melhor a realidade americana. São duas iniciativas importantes na área da cultura que vamos fazer em 2021 nos Açores, em ilhas diferentes, que traduzem a relação especial que temos com o arquipélago.

O que espera de 2021?

2021 será um ano em que podemos voltar a ter esperança em concretizar algo essencial na vida da FLAD: juntar pessoas, ser uma ponte entre Portugal e os Estados Unidos, alimentar esta relação de forma próxima, algo que só o contacto pessoal, humano, permite. Queremos começar a receber pessoas na FLAD, organizar eventos para promover o debate sobre os temas essenciais que a sociedade portuguesa enfrenta, juntando vozes com perspetivas diferentes, para pensar o mundo que aí vem.

Estamos já a trabalhar em várias iniciativas com as quais estamos muito entusiasmados, e, sejam quais forem as condições, continuaremos a trabalhar com toda a determinação para cumprir a nossa missão.