Em 2016, Miguel Castelo-Branco venceu o FLAD / Life Science Award e os méritos do trabalho desenvolvido valeram-lhe uma extensão do prémio por mais um ano, com mais 100 mil euros de financiamento. Recentemente, conclui com sucesso um ensaio clínico para testar novas terapias e diz que Portugal precisa de apostar mais na reabilitação, e não apenas no diagnóstico.

Hoje celebra-se o Dia Mundial da Consciencialização do Autismo e não há melhor pessoa com quem falar sobre o tema do que Miguel Castelo-Branco, Professor e Investigador da Universidade de Coimbra, vice-presidente de uma associação dedicada a esta condição e pai de um jovem com autismo.

Recentemente, Miguel Castelo-Branco terminou um ensaio clínico de fase 2, aprovado pelo Infarmed e com o apoio financeiro da FLAD e do projeto europeu Braintrain, que, recorrendo ao uso da Ressonância Magnética Funcional, permite medir a atividade do cérebro enquanto as pessoas fazem tarefas, devolvendo a informação à pessoa para que pudesse mudar a sua própria atividade cerebral.

“As pessoas eram expostas à sua própria atividade cerebral, em zonas do cérebro que têm a ver com o reconhecimento de emoções, para que as pessoas pudessem subir ou descer a atividade nessas zonas. Para que pudessem aprender a fazê-lo, mostramos uma imagem no computador, um avatar, e fazemos exercícios de imaginação da expressão emocional do avatar.” – Miguel Castelo-Branco

O ensaio clínico foi desenvolvido ao longo de 8 semanas e teve bons resultados: “ninguém desistiu, funciona, as pessoas gostam e estão muito motivadas para participar nas sessões”. As pessoas envolvidas aprenderam a modelar a sua atividade cerebral numa zona do cérebro fundamental para o reconhecimento das emoções.

Miguel Castelo-Branco: mais 100 mil euros para investigação sobre o autismo

Ainda com trabalho pela frente para desenvolver mais esta técnica, incluída na categoria do neurofeedback, o investigador explicou que o uso da Ressonância Magnética Funcional permite medir com mais precisão as áreas do cérebro com uma função afetada pelo autismo e que, pode até ser possível fazê-lo recorrendo ao eletroencefalograma, o que permitiria chegar a mais pessoas.

Este é apenas uma parte do trabalho incansável de Miguel Castelo-Branco na área do autismo, que lhe tem valido reconhecimento nacional e internacional, e produzido resultados assinaláveis, especialmente na área da terapia.

E, enquanto pai, neste Dia Mundial da Consciencialização do Autismo, é essa a mensagem que quer deixar, especialmente aos decisores nacionais: é preciso apostar mais na reabilitação.

“Há muito investimento em diagnóstico, mas pouco na reabilitação a nível público. Precisamos que o Sistema Nacional de Saúde não dê importância só ao diagnóstico.” – Miguel Castelo-Branco

Segundo o investigador, são contratados poucos técnicos de diagnóstico e psicólogos para apostar na terapia no SNS, ao contrário do que acontece noutros países, onde há um maior equilíbrio na aposta entre diagnóstico e reabilitação.