O debate sobre a sobrevivência dos meios de comunicação tradicionais é antigo. E ao mesmo tempo, completamente atual. Das dificuldades de sobrevivência do modelo ancorado na publicidade à convivência dos jornalistas com novas tecnologias baseadas em Inteligência Artificial e Machine Learning, muito ainda é desconhecido sobre o futuro dos jornais. Mas o futuro já chegou e pelas mãos de pessoas como Francesco Marconi, professor de Business of Journalism na Columbia School of Journalism, uma das mais conceituadas do mundo, e cofundador da Applied XL.

Foi logo no avião a caminho de Nova Iorque que percebeu que a sua viagem seria muito mais longa do que o previsto. Francesco Marconi é português, nascido e criado em Coimbra, filho de mãe portuguesa e pai italiano. Depois de estudar economia em Portugal e em Itália, viajou para Nova Iorque em 2009 para um estágio de um ano nas Nações Unidas.

Numa conversa típica de avião, um passageiro dizia-lhe que a primeira vez que tinha viajado para Nova Iorque também achava que era temporário, mas as décadas foram passando. Com Francesco Marconi, a história parece estar a repetir-se. E o seu percurso parecia indicar tudo menos uma carreira entre jornalistas. Mas no estágio nas Nações Unidas percebeu a importância do jornalismo para a sociedade e despertou o seu interesse.

“O jornalismo é muito mais do que contar histórias e fazer reportagens. O jornalismo tem o poder e a influência necessária para criar alterações sociais, culturais e económicas.” – Francesco Marconi

Quando terminou o estágio, decidiu tirar um mestrado em Data Journalism na Universidade do Missouri e desde então tem um longo percurso em pouco tempo. Esteve à frente da automatização e inteligência artificial da Associated Press – uma das mais antigas e maiores agências de notícias do mundo, e das mais inovadoras –, chefiou o departamento de Research & Development do Wall Street Journal, outro colosso na imprensa mundial, durante dois anos, até que finalmente decidiu pegar em todo este conhecimento e criar a sua própria empresa, a Applied XL, da qual é cofundador.

A utilização destas tecnologias, que por vezes surgem em notícias de forma simplista como os robots que escrevem notícias, é o futuro, diz. Mas não significa que os jornalistas vão ser substituídos por robots, ou se vão tornar obsoletos. O jornalismo é inerentemente humano.

“A primeira pergunta que me fazem, sempre que falo do tema, em particular os jornalistas, é ‘será que me vou ter que me preocupar em perder o meu emprego? e ‘será que um computador me vai substituir?’. A resposta é que não. Os sistemas editoriais que são automatizados têm que ser desenvolvidos com os princípios da integridade e da transparência jornalística, e esses princípios são princípios humanos.” – Francesco Marconi

As vantagens, quando bem aplicadas, de ter estes sistemas integrados nas redações modernas são da capacidade de processamento de informação impossível para um ser humano – como por exemplo grandes quantidades de dados financeiros – e libertar mais jornalistas que estão presos a tarefas rotineiras para questões mais importantes, diz.

“Estas novas técnicas estão a ser bastante utilizadas no jornalismo de investigação, que todas as pessoas tiveram alguma experiência ou leram. Investigações como Luanda Leaks ou os Panama Papers. São milhões e milhões de documentos em que existem ligações de entidades dentro destes documentos – pessoas, contas bancárias, empresas, países, cidades. Estas entidades formam uma rede de informação que ao olho humano, estas ligações, estes padrões, estão completamente escondidos. E é ai que entra a inteligência artificial, tecnologias como o Natural Language Processing, que conseguem identificar estes padrões e ligar uma série de documentos a uma pessoa, e ver a ligação da pessoa a uma empresa, e essa empresa a uma outra rede de empresas.” – Francesco Marconi

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