Numa altura em que Portugal continua a trabalhar tendo em vista a extensão da sua plataforma continental, Renato Mendes vai desenvolver um projeto para aumentar o conhecimento do Oceano Atlântico, de forma mais regular, numa parceria que visa também aproximar várias disciplinas.

A viagem do Caravel, nome de batismo do veículo autónomo de superfície, entre o Porto e o Arquipélago dos Açores, será o culminar de um longo processo de desenvolvimento do software, de afinação de processos e de um trabalho de equipa que vai muito além do oceanógrafo Renato Mendes.

O investigador do CoLAB +Atlantic percebeu que só há vantagens em trabalhar em conjunto e decidiu apresentar um projeto que visa isso mesmo: uma parceria próxima entre oceanógrafos e engenheiros. Segundo o investigador, neste tipo de projetos habitualmente cada um faz as suas tarefas e no final juntam-se. A falta de interatividade faz com que se utilizassem recursos que, para o utilizador final – o oceanógrafo – não tinham qualquer implicação.

“Do ponto de vista da engenharia mais precisão faz sentido, mas do ponto de vista da oceanografia não faz diferença”. – Renato Mendes, vencedor do FLAD Science Award Atlantic 2021.

Renato Mendes apercebeu-se disso no trabalho que desenvolve no CoLAB +Atlantic e quis traduzir esse espírito no projeto que venceu a edição do FLAD Science Award Atlantic 2021, o JUNO – Robotic Exploration of Atlantic Waters.

Este projeto nasce de uma necessidade mais profunda que sente enquanto oceanógrafo, que é a falta de dados para estudar o Oceano Atlântico, algo tão vital para Portugal, ainda para mais tendo em conta que a aquisição de dados no oceano e a sua partilha livre entre instituições, cientistas e cidadãos é um dos objetivos fundamentais da Década das Nações Unidas da Ciência do Oceano para o Desenvolvimento Sustentável (2021-30).

“Comparativamente com outros países da Europa, mesmo os que têm pouco mar, nós temos muito poucos dados. Não temos uma estratégia continua. Os projetos acabam, o financiamento acaba, e não há uma manutenção do projeto. Isso faz com que na oceanografia nós fiquemos sem séries longas de dados. Para quem estuda alterações climáticas é impossível avaliar algo sem uma série longa de dados. Temos sempre a tendência, e em Portugal esse lado da oceanografia é muito estudado, de usar dados de deteção remota – satélite – ou então usar modelos, criar cenários, para tentar estudar mudanças do longo prazo porque temos essa falta de dados.” – Renato Mendes, vencedor do FLAD Science Award Atlantic 2021.

A necessidade de ter dados é cada vez maior, mas estas viagens de recolha de dados são raras e financeiramente dispendiosas. É aqui que surge o projeto JUNO. O investigador propõe-se a desenvolver o software e fazer o teste operacional de um veículo autónomo de superfície, tendo como parceiros nacionais o CoLAB +Atlantic e o Laboratório de Sistemas e Tecnologias Subaquáticas da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e, como parceiro americano, o Prof. Pierre Lermusiaux, do MIT.

O Caravel é um veículo inteiramente sustentável, movido com recurso à energia gerada pelas ondas, e com alguns paneis solares para dias de menor ondulação, que permitirá fazer mais viagens para recolher dados sobre questões tão importantes como a poluição marinha, a monitorização de ruído e a pesca no oceano, entre muitos outros.

No final, o objetivo é que este tipo de veículo possa ser mais um recurso – mais flexível, economicamente viável e ambientalmente sustentável – para adicionar à rede de observação do Atlântico, e eventualmente poder coordenar com outro tipo de veículos autónomos e assim expandir o conhecimento que temos do Atlântico.