O nosso convidado desta semana é Rui Tavares, historiador e Professor Universitário, que fala sobre o seu fascínio tardio pelos Estados Unidos, antecipa uma viragem à esquerda na política norte-americana e lembra críticas à Rádio há 100 anos para para afastar demonização das redes sociais.

Oriundo de uma família do sul de Portugal, de orientação comunista e desconfiada dos Estados Unidos, Rui Tavares tinha os olhos postos noutras geografias, como o Brasil. O fascínio norte-americano surgiu já tarde, como admite o próprio, com os postais de um antigo professor que demonstravam um país mais diverso, diferente do que conhecia ao longe.

“É o primeiro momento em que eu penso ‘eu era capaz de me apaixonar pelos Estados Unidos’, nunca tendo ido lá e não vindo de uma família ou de uma cultura especialmente americanófila.” – Rui Tavares.

A primeira experiência surgiu já em abril de 2000, quando desembarca em Nova Iorque e fica em Hoboken, a cidade de New Jersey de onde é originária uma das figuras maiores da cultura norte-americana: Frank Sinatra.

Ainda viveu um mês na East Village, em Nova Iorque. Acabaria por voltar aos Estados Unidos várias vezes, como visiting scholar e como Professor visitante, nas Universidades de Massachusetts,  Nova Iorque e Brown, e em 2008 foi enviado especial do jornal PÚBLICO para cobrir as eleições que dariam uma vitória histórica a Barack Obama.

Como político que também é – foi eurodeputado pelo Bloco de Esquerda e é fundador do Livre, que conseguiu um resultado histórico nas últimas legislativas -, Rui Tavares prevê uma viragem à esquerda na política norte-americana que pode mudar o espectro político em definitivo e antecipa que o legado político de Donald Trump deixará herança de longo prazo.

“Esse conservadorismo de Donald Trump vai deixar uma herança longa. Ao mesmo tempo, socialmente o país vai virar à esquerda e a partir do momento em que os democratas conseguirem romper as comportas do Senado, eventualmente acabando como Filibuster no Senado – aquele mecanismo que obriga a super maiorias e que beneficia os republicanos -, no dia em que isso acabe, acho que se abrem as comportas para uma predominância democrática e multi racial na politica americana, que vai alterar a politica americana para sempre.” – Rui Tavares.

Sobre o poderio das redes sociais sobre a agenda mediática e o uso eficaz e eficiente que lhe tem sido dado por políticos, em especial de populistas, Rui Tavares não embarca numa demonização das redes sociais e lembra o que se dizia quando a Rádio surgiu, nas primeiras décadas do século XX.

“O que une e divide é a mensagem, não é o meio. Nós tivemos uma discussão muito igual nos anos 20 à volta da Rádio. Havia todo um discurso, um argumentário pessimista em relação à rádio que dizia: ‘vêem? A Rádio é a ferramenta dos demagogos. Para que serve a rádio? Para os Mussolinis e para os Hitlers, porque a Rádio é muito imediata, porque a rádio entra em casa das pessoas’.” – Rui Tavares.

Apesar de toda a polarização e das mudanças profundas que vê, o historiador deixa uma mensagem relativamente otimista, em relação às redes sociais e à conjuntura em si.

“Este momento de enorme polarização em que estamos a viver, em que nenhum de nós sabe bem em que acreditar, a que fios de informação se agarrar porque eles são tantos, nós vamos acabar por encontrar alguns pontos cardeais nestas ideias antigas de direitos humanos, de democracia, que fazem mais sentido do que o egoísmo tribal.” – Rui Tavares.

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