O nosso convidado desta semana é Pedro Magalhães, um dos politólogos mais reconhecidos do país, conhecedor profundo do sistema eleitoral norte-americano e especialista em comportamento eleitoral, opinião pública e sondagens.

Quando se pensa em sistema eleitoral americano em Portugal, um dos primeiros nomes que se identificam de imediato é Pedro Magalhães. Licenciado em Sociologia pelo ISCTE-IUL, doutorou-se em Ciência Política na Ohio State University, em Columbus, (um dos tradicionais Swing States), e é atualmente investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

A pouco mais de cinco semanas do dia das eleições presidenciais nos Estados Unidos – que se realizam a 3 de novembro -, Pedro Magalhães explica nesta conversa com o jornalista Filipe Santos Costa como funciona o sistema eleitoral norte-americano, fala sobre como e porque falharam as sondagens em 2016 que não previram a vitória de Donald Trump, mas também como se lêem as sondagens para evitar conclusões precipitadas, e ainda sobre a polarização a que assistimos no eleitorado norte-americano.

Para além do desconhecimento, há também várias críticas e até quem peça uma alteração ao sistema eleitoral norte-americano, onde, como Hillary Clinton foi um dos melhores exemplos, ter mais votos não significa a vitória. Mas o que justifica este sistema e que argumentos há para a sua mudança?

“É evidente que é, de um certo ponto de vista, chocante ver que uma candidata pode perder uma eleição ganhando de forma tão expressiva uma maioria dos votos. Mas o contra argumento é que o colégio eleitoral, e a forma como está definido, permite que Estados que normalmente não teriam grande atenção por parte dos políticos a tenham. Porque, se o critério for apenas os números, o risco é de aquilo que falávamos há bocado, a atenção dos políticos, o investimento das campanhas, a preocupação com as preferências daqueles eleitores estão centrados nos Estados mais populosos.” – Pedro Magalhães

Outra das questões que mais debate gerou em 2016 foi o falhanço das previsões. Todas as sondagens apontavam para uma vitória, expressiva e quase garantida, de Hillary Clinton, a candidata democrata. O resultado, como vemos, não foi esse. No entanto, há várias razões para explicar o que aconteceu, como explica o politólogo. Falhanço, sim, mas não só.

“Na verdade, as sondagens se tirarmos uma média simples, as últimas davam 3 pontos de vantagem para Hillary Clinton e teve dois pontos de vantagem. Em Portugal isso é o tipo de coisa que temos. Nas legislativas onde dizemos, as sondagens acertam. Nos Estados Unidos falharam. E falharam porquê? Porque elas acertaram no voto nacional, mas falharam nalguns Estados que acabaram por ser absolutamente cruciais para a vitória de Trump. […] Nestes estados as pessoas que decidiram mais tarde, decidiram desproporcionalmente a favor de Trump.” – Pedro Magalhães

Outra característica do sistema eleitoral norte-americano, em tempos tradicionais, é a rigidez nas preferências dos eleitores e a existência de menos de uma mão cheia de Estados que flutuam entre um partido e o outro, acabando por ter um peso decisivo na altura de escolher o próximo Presidente. Este ano, as escolhas não são tão claras, e pode haver mais Estados em disputa – Florida, Michigan, Pensilvânia, Wisconsin e Nevada, na opinião do investigador. Mas o que os distingue dos restantes?

“Uma coisa que caracteriza estes Estados onde Trump teve um resultado particularmente bom e inesperado, e que lhe deu a vitória mesmo que por margens pequenas, é uma divisão muito grande entre o mundo urbano, tendencialmente mais liberal no sentido americano, mais democrata, e o mundo rural mais conservador. É esta mistura de ingredientes que torna alguns destes Estados particularmente divididos e particularmente imprevisíveis.” – Pedro Magalhães

A questão da crescente polarização é, na opinião do politólogo, mais complexa e preocupante. Até porque a questão já não é apenas política e deixa os americanos em posições mais extremadas para com os seus compatriotas.

“Essa polarização não é apenas dos políticos, é também dos eleitores. Não é tão grande como é nos políticos, mas está a aumentar. E está aumentar porquê? Porque as pessoas mais polarizadas, mais extremas são também mais ativas politicamente, são aquelas que mais tendem a votar, são aquelas que mais tendem a protestar, são aquelas que mais votam nas primárias. As primárias jogam aqui, segundo algumas análises, um papel importante nesta polarização, porque elas são feitas para quem é mais participante e quem é mais participante é mais radical.” – Pedro Magalhães

Com o primeiro debate frente-a-frente entre os dois candidatos à Presidência dos Estados Unidos já na madrugada desta terça-feira, esta é uma conversa essencial para quem se interessa e quer saber mais sobre política norte-americana.

Este episódio das Atlantic Talks pode ser ouvido onde normalmente ouve os seus podcasts, ou seguindo um dos links abaixo.