Uma década depois da crise financeira que abalou as fundações da economia mundial, as maiores economias do mundo estão novamente a tentar recuperar através de estímulos nunca antes vistos. A pandemia trouxe uma crise económica diferente, e ainda sem fim à vista, mas alguns problemas mantém-se os mesmos. O nosso convidado desta semana é Miguel Faria e Castro, economista português do Departamento de Estudos da Reserva Federal de St. Louis, que nos ajuda a analisar tudo isto.

Partiu para Nova Iorque em 2011, logo após terminar o seu mestrado em economia na Universidade NOVA de Lisboa, para fazer o seu doutoramento na New York University. Desde então, foi na maior economia do mundo que estabeleceu a sua vida. Foi research assistant no National Bureau of Economic Research, e teaching assistant na NYU Stern School of Business e na New York University, até se juntar, em 2017, à Reserva Federal de St. Louis, no Missouri.

Apesar da juventude, tem já um currículo e experiência na área considerável. Trabalho com economistas de todo o mundo, da China à Argentina e está numa posição privilegiada para nos ajudar a entender um pouco mais do momento que vivemos, em termos económicos.

Miguel Faria e Castro explica que a nova administração na Casa Branca, liderada por Joe Biden, não está propriamente a surpreender nas reformas que está a fazer avançar – que implicam maior regulação –, até porque as grandes reformas liberais dos anos 80 têm vindo a ser desmanteladas de forma mais ou menos consistente, em especial depois da crise financeira de 2008.

“O sistema financeiro foi extremamente desregulado nos anos 90 aqui nos EUA, penso que 1999 é o grande ano em que uma lei, isto se calhar é um bocado nerdy, mas uma lei muito importante que vinha ainda dos tempos da Grande Depressão que era a “Glass Steagall Act”, foi basicamente anulada no tempo do Bill Clinton. Esta era uma lei que obrigava a separação da banca de investimentos da banca de retalho. Muitos economistas acham que a anulação desta lei foi uma das causas próximas da crise financeira que tivemos em 2008.” – Miguel Faria e Castro

Estas decisões do passado, que muitos apontam como um dos grandes factores que levaram à crise financeira, estarão agora a permitir desenvolver regulação mais apertada com maior apoio, tanto da sociedade americana, como entre os dois maiores partidos políticos dos EUA.

Quanto à resposta dos Estados Unidos às consequências económicas da pandemia, Miguel Faria e Castro reconhece que foi de dimensão muito superior àquilo que aconteceu na Europa e também foi mais rápida e direta. Mas aqui há várias questões em jogo. Em primeiro lugar, os EUA decidiram apoiar diretamente – com transferências diretas – todos os americanos, e isto resulta, em parte, da sua rede de apoio social, como subsídios de desemprego e outras prestações, ser consideravelmente mais fraca.

Por outro lado, há também a falta de capacidade de resposta do lado da União Europeia, que tem de ter o acordo dos líderes dos 27 Estados-Membros, cada um com os seus interesses particulares, e também que o apoio decidido foi para a fase de recuperação económica no pós-pandemia, e não para ajudar a sobreviver à mesma, que ainda não terminou.

“Acho que falta muito a capacidade de resposta rápida por parte das instituições europeias. Não é claro se é uma feature ou um bug , na medida em que como tudo o que é feito a nível europeu requer grandes consensos por parte dos Estados-Membros é normal que as instituições europeias não tenham essa capacidade de resposta muito rápida. O que se viu, de facto, com a resposta a nível europeu à crise foi que não houve resposta imediata. Basicamente, enquanto a crise se desenrolava nos países europeus eles o que fizeram foi deixaram a resposta imediata à crise a cargo dos Estados-Membros e começou-se a desenhar um pacote para apoiar já a retoma.” – Miguel Faria e Castro

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