No último episódio da segunda temporada, convidámos o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para uma reflexão sobre a importância das comunidades luso-americanas tanto para os Estados Unidos como para Portugal, o papel dos Açores e do Atlântico no plano geoestratégico mundial e da evolução da Democracia na América.

Foi ainda no início da sua vida profissional na academia que começou a ganhar interesse pelos Estados Unidos. Primeiro com a literatura e imprensa norte-americana, e depois quando começou a ensinar, mais focado em matérias de economia e finanças, onde os americanos dominavam. Quando o seu irmão Pedro foi trabalhar para os Estados Unidos, a renegociar a dívida brasileira pelo Citibank, começou a conhecer o país, começando por Nova Iorque.

Marcelo Rebelo de Sousa conta até quando o então novo embaixador dos Estados Unidos em Lisboa no pós 25 de abril, Frank Carlucci, queria falar com um analista da situação política em Portugal, e acabaram a conversar num restaurante na Avenida de Roma, durante aquele período conturbado para o país. Não era o “mais adequado” para falarem à vontade, disse-lhe Marcelo Rebelo de Sousa, porque o restaurante estava cheio. “Não há perigo, é só gente amiga”, ripostou Carlucci.

Agora Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa tem um conhecimento próximo das comunidades, às quais alargou os festejos do Dia de Portugal presencialmente, fazendo-lhes um elogio rasgado, pela capacidade de se manterem modernas, integrarem-se e promoverem a mudança.

“Não só não esqueceram, como sabem tudo o que se passa em Portugal. Ajudam em tudo. É preciso uma lei sobre a matéria que tem a ver com o estatuto dos luso-americanos, ou tem a ver com a circulação entre os dois países, ou tem a ver com questões económicas ou financeiras, não falham uma lei. E não é votarem, é convencerem os partidos a votarem. Têm influência real, têm influência potenciadora – porque depois não é só política, é económica e social e cultural. Mas depois, o que é espantoso, é que as comunidades, elas próprias, não perdem as suas tradições.” – Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República

Marcelo Rebelo de Sousa conta que cada vez que vai aos Estados Unidos visitar as comunidade “há sempre uma surpresa melhor” e vê isso como uma mostra do que é o cruzamento da capacidade americana com a capacidade portuguesa.

Sobre o envolvimento dos Estados Unidos em Portugal, o Presidente da República sublinha que o Arquipélago dos Açores é “cada vez mais importante”, porque há problemas específicos do Atlântico, no Golfo da Guiné, como o narcotráfico, a pirataria, o trafico de seres humanos, e também a ligação com o continente africano. “O que é verdade é que o Atlântico Sul está a ter uma importância crescente na problemática estratégica na ótica americana.”

Sobre os Estados Unidos, diz que é necessário um esforço para conhecer melhor um país em que, diz, as comunidades portuguesas podem desempenhar um papel fundamental.

“Não é compreender, é conhecer, e aí a ação que possa ser feita é importante, mas é uma ação sempre difícil porque os Estados Unidos da América são uma galáxia. Não são uma potência, são uma galáxia feita de muitas realidades. Cada Estado é um Estado. As comunidades portuguesas aí são cruciais, mas são mais pesadas em alguns estados do que noutros. No centro dos EUA não há uma presença tão grande, há nas costas. E esse é um problema objetivo.” – Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República

O Presidente falou ainda sobre o seu encontro com o Presidente Donald Trump, naquela que foi a sua primeira visita oficial enquanto Presidente da República à Casa Branca, e sobre os desafios que enfrenta a democracia norte-americana, assim como o que isso representa para o mundo ocidental.

“São a mais antiga e clássica Democracia do mundo, e, porventura, a mais sofisticada. Mas também é a mais complexa. O problema é que ali vemos em grande e primeiro, aquilo que em pequeno, e em segundo lugar, terceiro, quarto e quinto lugar pode acontecer noutras democracias, que é: como é que sistemas conseguidos para um certo tempo político reagem a um tempo acelerado; segundo, como é que concebidos para certo tipo de comunicação reagem perante formas mediáticas completamente diversas e aceleradas; terceiro, como é que a representação pode funcionar quando as estruturas representativas são por natureza muito lentas, limitadas, ainda que num esquema muito flexível. (…) Nesse sentido é um laboratório muito interessante para analisar e para perceber como é a realidade e até a dificuldade de rejuvenescimento dos sistemas.” – Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República

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