A pandemia tornou ainda mais evidente a necessidade de se comunicar a Ciência de maneira clara, percetível e capaz de chegar a todos os públicos. Nos últimos dois anos, os meios de comunicação tiveram como presença assídua cientistas de diversas áreas e, com eles, uma oportunidade única para a Comunicação de Ciência. A convidada desta semana dedica parte do seu tempo a tentar melhorar a forma como os cientistas comunicam. Joana Lobo Antunes é cientista, professora universitária e divulgadora de Ciência.

É licenciada em Ciências Farmacêuticas e doutorada em Química Orgânica. É professora de Comunicação de Ciência na Universidade Nova de Lisboa e Coordenadora da área de Comunicação, Imagem e Marketing do Instituto Superior Técnico. Está ligada a muitos projetos de divulgação científica como o “90 Segundos de Ciência”, programa da Antena 1, desde 2016.

Nos últimos dois anos, as televisões, rádios e jornais tiveram como presença, praticamente diária, cientistas de várias áreas para explicar ao mundo, ávido de respostas, como iríamos lidar com a pandemia. Muitas vezes, mais do que explicar aquilo que sabiam, os cientistas precisaram de comunicar que a incerteza e a falta de respostas fazem parte do próprio processo científico, uma oportunidade única que Joana Lobo Antunes acredita não ter sido totalmente aproveitada.

“Aquilo que nós tentámos explicar é o que é Ciência, como se faz Ciência, para as pessoas perceberem os nossos constrangimentos, de forma a perceberem que quando nós dizemos ‘ainda não sabemos’ não é uma questão de ignorância, mas sim uma questão de processo. E eu não tenho a certeza de que tenhamos sido completamente bem-sucedidos a fazer isso.”

As informações falsas ou contraditórias que alimentaram os movimentos anti-vacinas e, até, anti-ciência, também beneficiaram da falta de protagonismo dos cientistas nos meios de comunicação tradicionais, defende a cientista.

“A Ciência passa de uma forma muito discreta nos meios de comunicação social e, essencialmente, na imprensa escrita. Os cientistas nunca foram grandes protagonistas. (…) Enquanto não houver um interesse mediático generalizado por estas questões (…), a opinião dos cientistas nos fóruns com maior visibilidade, na verdade, não chega a tantos lados.”

Para além da necessidade deste espaço, os cientistas precisam também de comunicar melhor o que fazem, para que os jornalistas e, por consequência, o público em geral possam perceber melhor as mensagens. Joana Lobo Antunes acredita que, para isso, deve haver um maior investimento na Ciência e, em particular, na sua divulgação.

“Nós temos de trabalhar na antecipação e daí a importância de haver fortes programas de comunicação de Ciência, um investimento fortíssimo na ciência e também na sua divulgação, porque se os cientistas forem os primeiros a pôr a história cá fora e a explicar como é que as coisas são, em vez de as virem desmentir, a sua mensagem é muito mais forte.”

A cientista e comunicadora fala ainda sobre a sua passagem pelo Alan Alda Center for Communicating Science, na Stony Brook University, em Nova Iorque, que desenvolve programas universitários sobre Comunicação de Ciência. Encontrou muitas semelhanças com o método que já aplicava nos cursos que desenvolvia na Universidade Nova, que junta jornalistas, atores e a representação teatral para ajudar cientistas a comunicar melhor, mas realça uma diferença fundamental.

“Nos EUA há uma tradição de fazer isto [Comunicação de Ciência] muito mais longa que a nossa (…) A vantagem nos EUA é que estão há muito mais tempo a fazerem isto, têm muito mais iniciativas, muito mais dinheiro e têm muito mais investimento nesta área.”

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