Isabel Capeloa Gil é reitora da Universidade Católica Portuguesa e presidente da Federação Internacional de Universidades Católicas. No regresso das Atlantic Talks, falamos com a reitora sobre a diferença entre o Ensino Superior na Europa e nos Estados Unidos e o caminho que devem trilhar as universidades portuguesas para atingirem novos patamares.

Nasceu em Ílhavo, mas cresceu em Macau, onde viveu o 25 de abril à distância, juntamente com eventos marcantes na história da região: a Guerra do Vietname a queda de Saigão e a morte de Mao Tsé-Tung.

Só voltaria para Portugal em 1981, ainda adolescente. Dois anos mais tarde, iniciou um percurso académico que a deixaria ligada até hoje ao meio académico: licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas e é mestre em Estudos Alemães na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, doutorada em Estudos Alemães na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa de Lisboa.

Estudou na Ludwig Maximilian Universität, em Munique, Baviera, e na Universidade de Chicago, em Chicago, Illinois, foi Professora Convidada em grandes universidades em Itália, Irlanda, Rio de Janeiro e Macau, e investigadora visitante do Wissenschaftskolleg, em Berlim, e do Freeman Spogli Institute for International Studies da Universidade de Stanford. Desde 2010 tem o título de Honorary Fellow da School of Advanced Studies da Universidade de Londres.

Isabel Capeloa Gil avalia a posição de Portugal, face às suas capacidades, como sendo ótima, tendo em conta a evolução alcançada nas últimas décadas.

“O nosso lugar é ótimo, tendo em conta aquilo que são as capacidades do país para o investimento em ciência. E a verdade é que nos últimos 20 anos tem havido um investimento, uma visibilidade dada à importância do cultivo da ciência, ao investimento no ensino superior, que transformou verdadeiramente o país.” – Isabel Capeloa Gil

No entanto, é preciso fazer mais e, acima de tudo, pensar de forma diferente para fazer avançar a ciência em Portugal.

“Hoje em dia, a ciência faz-se em rede, faz-se em termos supranacionais, e faz-se muito da capacidade que cada universidade e cada sistema de ensino tem de atrairmos os melhores a nível global. Não seremos os melhores pela capacidade de mantermos todos os portugueses em Portugal, mas seremos os melhores se mantivermos uma pool de talento português extraordinária a ser formado nas nossas universidades e se formos capazes também de atrair uma pool de talento internacional para ser formado cá.” – Isabel Capeloa Gil

A reitora da Universidade Católica Portuguesa defende que Portugal já é muito competitivo em termos de ciência, com enorme talento e capacidade de desenvolvimento, e aponta a comunidade portuguesa nos Estados Unidos como um ativo para o qual as universidades devem olhar mais.

“A comunidade portuguesa tem um enorme respeito e interesse na ligação a Portugal, mas nós temos de trabalhar melhor a comunidade. Temos que nos interessar mais pela comunidade portuguesa nos Estados Unidos, enquanto instituições universitárias. Temos que estar mais próximos, porque para nós é particularmente importante poder atrair para Portugal os filhos dos luso-americanos que vivem nos EUA.” – Isabel Capeloa Gil

Sobre a diferença entre as universidades americanas, no topo da academia mundial, e as europeias, Isabel Capeloa Gil explica que há uma diferença cultural desde logo na sua origem. As universidades americanas foram criadas retirando o que de melhor existia na Europa, mas acabam por ter uma capacidade de financiamento maior. Em parte isto acontece porque, culturalmente, existe também uma diferença substancial: a cultura de ‘giving back’ que os americanos têm em relação à sua alma mater.

“[Nos EUA] sentem a necessidade de devolver à sua Alma Mater aquilo que dela receberam, em termos de valor intangível, e dar um valor tangível que recompense o valor intangível que eles receberam. A Europa, por valores diferentes, não tem essa tradição, de todo. Nem países católicos, nem protestantes. Porque o ensino superior é maioritariamente um projeto estatal. Há uma lógica completamente diferente.” – Isabel Capeloa Gil

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