Começou no Teatro com 16 anos. Desde então passaram seis décadas, mas continua com a energia e o entusiasmo com que nos habituou, com um novo espetáculo no Politeama. O nosso convidado desta semana é Filipe La Féria, o encenador que já foi ator, dramaturgo e empresário, que nos trouxe os musicais quando lhe diziam que nunca teria sucesso e que só volta à Terra se for para a Broadway. São Pedro está avisado.

Filipe La Féria é um daqueles nomes que qualquer português conhece. Escreveu e encenou Amália, que esteve em cena durante seis anos, e adaptou grandes obras com considerável sucesso, como os musicais My Fair Lady, Jesus Cristo Superstar e Música no Coração, mas a sua carreia é longa, cheia de peripécias e muitas histórias para contar.

Entre essas está a recomendação que lhe fizeram de nunca trazer os musicais para Portugal. O público português não ia gostar, disseram-lhe. Mas Filipe La Féria não ouviu, fez a sua própria adaptação e hoje não só é reconhecido por isso no nosso país, como até se tornou num caso de estudo em escolas de teatro de Nova Iorque.

“Até me aconselharam a nunca fazer musicais, porque achavam que o público português não gostava de musicais. Mas eu sabia que a grande tradição também do português era a opereta. e quando falamos de Vasco Santana e Mirita Casimiro, o Vasco Santana era um ator de opereta. Havia também uma grande afluência do público para esse teatro. Enquanto o musical é uma história que se desenrola dramaturgicamente – há personagens, há ação, há conflito -, na revista é muito diferente. Na revista são quadros, as chamadas rábulas, portanto, o ator tem três quatro minutos para mostrar o que vale.” – Filipe La Féria.

A Broadway é o seu mundo de sonho. Um mundo que só conheceu depois de se familiarizar com os grandes musicais no West End, em Londres, mas que hoje, diz, é onde quer reencarnar, se for tiver essa oportunidade.

“Os americanos, e sobretudo o Teatro da Broadway, explorou e enriqueceu, com músicas extraordinárias e, sobretudo, compositores geniais. Fizeram um espetáculo muito americano, que é muito diferente do musical inglês. Muito enraizado na sua própria história, na história da América. Também tem a sua critica social, mas desenvolve quase um ensinamento daquilo que é a própria história americana. (…) A primeira vez que fui a Nova Iorque chamei um táxi e disse ‘leve-me à Broadway’. Eu só quero ver a Broadway. Aliás, se voltar aqui à terra eu já disse ao São Pedro que só volto se for para a Broadway. Na realidade, a Broadway é um mundo de sonho, é um bocado como a Disney e Hollywood. Essas máquinas extraordinárias do sonho.” – Filipe La Féria.

Sobre o momento que atravessa o Teatro em Portugal, e não só, a falta de público nas salas e a pressão social que leva a represálias por quem faça ou diga algo menos positivo, Filipe La Féria aborda a questão um pouco como o fez quando lhe disseram que os musicais nunca teriam sucesso em Portugal: ignorando.

“Eu acho ridículo. Existe e muito [uma política de cancelamento e represália]. Na minha idade, estou me perfeitamente a marimbar para isso. Nunca fui uma pessoa reacionária, preocupa-me o ser humano e os grandes valores do ser humano. E a liberdade, porque o Teatro é liberdade. (…) Fazer Teatro sem público, não é Teatro. Pode ser uma conferência, pode ser um monólogo muito interessante ou um colóquio, mas nunca é Teatro. O Teatro vive da comunicação, da entrega do ator ao público e do público ao ator.” – Filipe La Féria

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