Com apenas 23 anos, organizou uma manifestação na sua cidade de Taunton, no Massachusetts, para exigir que os operadores de televisão por cabo transmitissem a RTP Internacional grátis, 24 horas por dia. Não só o conseguiu, como juntou mais de 15 mil luso-americanos de todo o país. Seria o primeiro passo de uma carreira política e de ativista que o levaria à equipa mais próxima de Barack Obama na Casa Branca, onde permaneceu durante 8 anos, e agora a presidente da Fundação Obama. David Simas, o luso-americano com pai açoriano e mãe alentejana, é o nosso convidado desta semana.
Já nasceu nos Estados Unidos e, conta, enquanto crescia só pensava em ser americano, porque “ninguém quer ser diferente”, mas a sua vida já era um exemplo de diversidade. Durante o dia, diz, ia para os Estados Unidos, onde já demonstrava que era um líder: para a escola – onde era delegado de turma – jogava futebol americano e baseball – foi capitão da sua equipa -, e um rotário junior. Durante as férias de verão, ganhava dinheiro como ‘caddie’ onde chegou a carregar os tacos de Jack Welch, o histórico presidente da General Electric, e de Sam Nunn, antigo senador da Geórgia. Quando estava em casa era como se voltasse aos Açores, onde o esperavam António e Deolinda Simas, os seus pais. Operários emigrados, que ganharam a vida a custo – a sua mãe perdeu dois dedos num acidente numa fábrica de Taunton.
“Durante o dia eu partia para os EUA. Ia à escola, jogava baseball, estava com os meus amigos e queria tanto ser uma criança americana. Nenhuma criança quer ser diferente. Querem ser parte do grupo. À noite, regressava aos Açores: a comida, a música, a igreja de Santo António. A minha mãe e o meu pai falavam da vida cívica, política [em Portugal].” – David Simas, CEO da Fundação Obama
Seguindo as pisadas do pai, que era um anti-comunista ferrenho, David Simas até começou por ser republicano. Era um dos membros fundadores do “Teenage Taunton Republican Club” e até tinha um poster de Ronald Reagan no seu quarto. Mas não durou. Foi depois disso que organizou o protesto, com apenas 23 anos, que viria a unir mais de 15 mil luso-americanos na exigência da transmissão da RTP Internacional nos EUA, grátis e 24 horas por dia. Seria a apenas a primeira de muitas vitórias políticas, que o levariam a 8 anos na equipa política da Casa Branca de Barack Obama, e ao comité para a reeleição do Presidente em 2012.
O sonho americano, que hoje vê cada vez mais difícil de se tornar uma realidade, permitiria a uns dos momentos de maior orgulho, quando os seus pais conheceram Barack Obama. Orgulho do seu trajeto e dos seus pais, mas também, e acima de tudo, do país onde tinha nascido.
“Abre-se uma porta e da sala saiu o Presidente dos Estados Unidos [Barack Obama]. Aproximou-se da minha mãe e do meu pai e disse “Senhor e Senhora Simas, que grande prazer é conhecer-vos. Muito obrigado pelo vosso contributo para o país.” Nunca esquecerei a cara da minha mãe e do meu pai. O Obama deu-lhes um abraço e levou-os pelas mãos até à Sala Oval, aquela sala que todo o mundo conhece. E lá estão o António e a Deolinda Simas, sentados na Sala Oval. É a beleza de Barack Obama, mas também é a beleza dos Estados Unidos. Naquele momento, a pessoa mais poderosa do mundo estava sentada olhos nos olhos, braço a braço, com cidadãos. E como Obama diz sempre, o trabalho e a posição mais importante em cada democracia, é o trabalho do cidadão.” – David Simas, CEO da Fundação Obama
Hoje, é o CEO da Fundação Obama, onde continua a dar expressão àquilo que sempre gostou de fazer: ouvir as pessoas, tornar as comunidades mais fortes e colocá-las a conversar, apesar das diferenças que possam ter. A Democracia, diz, é o processo de negociar as diferenças. Por isso, acha que “a ideologia mata o debate”.
“É fácil falar com um amigo. Mas Democracia e Governo é encontrar uma maneira de negociar a diferença. Os Estados Unidos têm 330 milhões de pessoas. Se eu não tenho a capacidade, o treino, a vontade, de falar com uma pessoa que não tem a mesma opinião, isso não é Democracia. Eu sou mais do que a minha ideia política. Tenho mais complexidade do que a minha ideia sobre um assunto. Sou filho, sou católico, sou cidadão. (…) A Democracia é uma expressão de comunidade. A consciência de que numa comunidade, numa cidade, num Estado, num país, eu tenho que viver com outros.” – David Simas, CEO da Fundação Obama
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